Antologia IV

Liberdade


A minha prosa nesta obra
A minha prosa nesta obra

Liberdade

«É ter fome, é ter sede de infinito» Florbela Espanca

Não encontro melhor forma de definir liberdade.

Quando era miúda, a Sofia teimava que gostava de ter nascido noutro continente que não o europeu, África era o seu eleito. Achava ela, que, se é livre ou não, consoante o lugar onde se vive.

Bem enganada estava essa jovem.

Somos livres em nós, não em lugares.

Somos livres em decisões, tomadas ou não.

Somos livres em consciências, que temos e seguimos.

Somos livres ao não amar, quando apaixonados estamos, perdemos a liberdade.

Mas, se a aventura da vida é amar, decidir por alguém e ter consciências partilhadas, ficamos com pouco espaço para a desejada liberdade, e encaixar tudo isto no cérebro é uma árdua tarefa, mais fácil é, acomodarmos tudo no doce coração.

No entanto quando caminhamos na vida através do doce coração, sofremos muita desilusão, muita deceção, sentimos o sabor amargo da solidão, pode parecer contradição, mas, repara Sofia: se caminhares na vida com a cabeça, pode faltar amor, afetos, mas tens a liberdade.

Que fazes com ela?

Ora, sê tu! Se quiseres, bastas-te a ti mesma!

Sê tu própria, despida de ordens, despida de arrependimentos, despida de obrigações indesejadas, vive esta caminhada vivendo, mas vivendo em liberdade!

Não sei se a jovem Sofia ficou convencida, ela é uma perdida romântica, vai seguramente continuar a fazer a caminhada com o seu doce coração.

Mas, quando os aniversários se acumularem, uns em cima dos outros, pode até pensar-se feliz, sentir-se realizada, mas deixou no seu passado, na sua caminhada, uma sensação única e que foi irremediavelmente perdida, irremediavelmente desperdiçada; a sua liberdade.

Madalena Gonçalves